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Um perigo oculto nas empresas
Proativo. Adjetivo associado a raras qualidades existentes nas pessoas. Gosto dessa palavra por sua abrangência: ágil, competente, observador, trabalhador... Gosto dessas pessoas pelos efeitos que assanham ao seu redor, efeitos que precedem o sucesso. Ser proativo é buscar, espontaneamente, soluções ou mudanças criativas no dia a dia das empresas, é antecipar-se aos problemas: sempre de forma serena e harmoniosa... Se o funcionário proativo é raro, então qual é o comum? É o reativo! Melhor que defini-lo é narrar um ocorrido.
Certa vez fui contratado para fazer uma espécie de auditoria numa escola. Eram três da tarde e, sentado numa cadeira no canto da sala, eu aguardava a chegada de quem me contratara, o patrão. Patrão: assim os funcionários o chamam...

Contexto...
A cidade: São Paulo;
A sala: setor pedagógico;
O mês: abril.

O episódio:
Preso no chão por fita adesiva, o cabo de energia atravessava a sala. Mal distribuídos, mesas e móveis dificultavam a movimentação pelo ambiente. Realçados pela luz que descia das vidraças, feito teias abstratas, fios flutuantes ligavam perigosamente as mesas. Perdida entre pilhas de documentos e segurando um celular em cada orelha, a coordenadora pedagógica parecia lutar contra algo insolúvel... e também invisível aos seus olhos.
Três cursos lançados, muito dinheiro investido, nenhuma matrícula. Funcionários despreparados, estratégias equivocadas...
No espaço livre da sala, sob a luz suave do outono, feliz uma funcionária desfilava. Distraída, há pouco tropeçara no cabo de energia estendido pelo chão. Saltos enormes, vestido curtíssimo, olhos verdes e provocantes: poderes consubstanciados em formas...
De repente o patrão entra na sala e vai direto à coordenadora. Enérgico, pede explicações sobre a escassez de matrículas...
Serenas, as mãos da coordenadora abandonam sobre a mesa os dois celulares. Os olhos, azuis e enigmáticos, voltam-se ternamente para patrão.
— Perdoe-me, querido, mas não ouvi sua pergunta — respondeu ela, no instante em que sua delicada mão afastava da face os lindos cabelos louros.
Enfeitiçados, os olhos dele se desmancharam em ternura. O corpo, antes rígido, ganhou fluidez. Delicadamente, sua enorme mão tocou no antebraço dela. Como nos sonhos, gestos comuns pareceram ter perdido peso corpóreo...
Por um instante, naquela tarde que calma declinava, pareceu existir alguma tensão, algum problema, mas foi só uma ligeira impressão...
— Esqueça, minha querida, esqueça... Não era importante — balbuciou ele, agora com os olhos grudados num par de pulseiras coloridas que ela trazia no pulso esquerdo...
Fragmentos de uma tarde qualquer, numa empresa qualquer... Fragmentos de uma falência há muito tempo anunciada.


                                                                                              por Silvio Pélico